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Ideias
2021-12-03 às 06h00
No jornal “O Público” da semana passada, Daniel Markovits deu uma importante entrevista sobre a meritocracia como bloqueador da igualdade e da democracia.
Nela, o autor, professor de Harvard, desenvolveu a ideia de que a meritocracia criou uma elite, uma nova oligarquia baseada no investimento na educação. Os novos-ricos monopolizam os empregos com os melhores salários e trabalham mais horas. Estes resultam de um investimento na educação e moldam a sociedade e a educação à sua maneira, impondo os seus valores.
Esta nova classe torna a classe média uma sombra, a qual se aproxima cada vez mais das classes baixas.
Houve tempos em que para a elite, o trabalho era malvisto; viviam das heranças, dos lucros das fábricas e das propriedades e o resto da sociedade trabalhava para eles. Hoje, se se é elite valoriza-se o trabalho, diz-se que se está sempre ocupado, acreditando que se merece integrar a elite.
E, o autor termina, dizendo que é necessário promover uma classe média que não aspire à riqueza extrema. De outro modo, esta sociedade, ou termina numa guerra, ou numa revolução.
Embora em diferente contexto, o problema da meritocracia vs. democracia é antigo, remontando a meados do século passado.
Desde os finais do século XIX que se acreditava que o fim da “patronage” só podia ser conseguido com o recrutamento com base no mérito, encontrado através de testes, ou concursos. Passado pouco tempo, verificou-se que a alta administração pública americana era ocupada por brancos, oriundos de classes altas.
Este problema agravou-se com o “New Deal”, porquanto os quadros superiores eram pouco abertos às novas orientações políticas. Recorreu-se, então ao conceito de burocracia representativa. A ideia fundamental era de que mais importante que o recrutamento com base no mérito, importava que a democracia representasse todos os segmentos sociais, formas de pensar e grupos étnicos. Na verdade, constatava-se que a burocracia tradicional representava uma determinada classe e era de harmonia com esses valores que as novas orientações eram interpretadas e as políticas implementadas. Surge então nos Estados Unidos a “representative action”, ou a discriminação positiva, segunda a qual se pretende que nas organizações públicas haja uma representação proporcional entre os funcionários e a população que representam.
Também em Portugal se observam fenómenos indiciam uma rutura da democracia vs. meritocracia. Assim, e por exemplo, os filhos das classes altas frequentam cada vez mais universidades europeias e americanas de topo. Por outro lado, a classe média está em vias de desaparecimento. E um indicador é o de que os salários médios estão cada vez mais próximos do salário mínimo. Em resumo, tudo cá chega às vezes com formas menos claras, coado pela cultura nacional.
19 Março 2024
18 Março 2024
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