Correio do Minho

Braga, quarta-feira

- +

8 mil milhões

Bibliotecas de Leitura Pública com rosto

8 mil milhões

Escreve quem sabe

2023-02-03 às 06h00

Ricardo Moura Ricardo Moura

Há três meses rompemos a cortina com um número fausto nas mãos. Em pouco mais de uma década engordamos um bilião de almas. A terra está de tal modo prenha que ninguém sabe projetar o contracetivo certo para estancar o embrião. O homem anda sem freio. Com esta volúpia, iremos ultrapassar os 10 mil milhões antes do final deste século. A cadência frenética impressiona se lembrarmos que só em 1800 é que foi atingido o primeiro bilião de pessoas.
O maior aglomerado dos oito mil milhões que pisam este planeta está nos continentes asiático e africano. É aqui que o calor humano abunda. Sobre esta matéria, as Nações Unidas advertem que a população mais que triplicou entre 1950 e 2020. Se associarmos este “baby-boom” ao facto de vivermos um tempo onde o número de pessoas que chega aos 100 anos é cada vez maior, temos a tempestade perfeita.

A Population Reference Bureau, organização norte-americana focada em estatísticas demográficas, estima que mais de 60 mil milhões já habitaram no planeta Terra desde o ano 1 d.C. até 2022. Escrito de outra forma, apesar do quadro descomunal que vivemos, somos apenas 13% do total que já pisou a Terra nos últimos dois mil anos.
Esta reflexão ganha maior inquietude quando ficamos a saber, através do site oficial do Boletim dos Cientistas Atómicos, organização não-governamental (ONG) sediada em Chicago, nos Estados Unidos, que o chamado “Relógio do Apocalipse” – mede as ameaças à humanidade e calcula o quão perto está da extinção – atualizado por estes dias, mostra que estamos a apenas 90 segundos da meia-noite, registo nunca antes anunciado.
O quadro faz carranca. Não é para menos. Apesar das melhorias imparáveis em áreas como a medicina, a verdade é que o homem nunca soube distribuir. Um dos maiores males está na concentração da maior parte da população junto à costa e as consequências que as alterações climáticas podem trazer como a deslocalização de milhões de pessoas. O espelho deste desequilíbrio é facilmente sentido nos oceanos, florestas e solos, responsáveis pela absorção de muito do dióxido de carbono libertado a mais para a atmosfera. A talho de foice recordo que o Ártico aqueceu quatro vezes mais depressa nos últimos 40 anos.

Esta desarmonia arrasta outras. Se a China – ainda hoje o país mais populoso do Mundo – é sinónimo de abastança humana, não faltam exemplos inversos. É o caso da baixa fecundidade. No último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), está redigido que a taxa média de fecundidade é de 2,3 filhos por mulher, acima dos cerca de cinco em 1950. Para 2050, a quota baixa para ficar no magro 2,1. Somos cada vez mais velhos: quase 73 anos de média em 2019, mais nove do que em 1990. A meio deste século está previsto que o número ultrapasse os 77 anos. Em 2018, pela primeira vez, o número de pessoas com mais 65 anos ultrapassou o número de pessoas com menos de cinco. A somar a estes dados, referir que mais da metade do crescimento populacional até 2050 estará restrita a oito países: República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Índia, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tanzânia.
Face a tamanha desordem, contas feitas, seriam necessários 1,75 planetas Terra para suprir as carências da população de forma sustentável. O alerta é ainda mais grave quando sabemos que o setor primário ocupa mais de metade da terra habitável e é responsável por 70% da água consumida.

Cenário inquietante para não escrever outra palavra. Entre nós, os últimos Censos revelaram que perdemos 2,1% da população entre 2011 e 2021, invertendo a tendência de crescimento registada nas últimas décadas. O Instituto Nacional de Estatística (INE) vai mais longe ao garantir que esta realidade representa a "segunda quebra populacional registada desde 1864, ano em que se realizou o I Recenseamento Geral da População". Nada de espantar quando sabemos que Portugal é o quinto país mais envelhecido do Mundo, só superado por Japão, Itália, Grécia e Finlândia.

É aqui que entra a palavra água. Ou o homem toma consciência do desnorte que povoa a sua conduta ou a sobrevivência entra em colapso. Face ao aumento exponencial da população, consumimos quatro vezes mais água do registado em 1950. A produção de lixo disparou. A pressão sobre os recursos do planeta é cada vez maior.
Mais do que andarmos entretidos em saber que a filipina Vinice Mabansag é a bebé “oito biliões”, urge vedar o suicídio no qual caminha a humanidade. Se insistimos em assobiar, a corda vai partir e garanto que não é para o lado que queremos.

Deixa o teu comentário

Últimas Escreve quem sabe

26 Março 2023

Síndrome de burnout

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho