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Ideias
2015-09-20 às 06h00
A generalidade dos portugueses está familiarizada com a percentagem que encabeça a presente crónica. Por mim, dela me inteirei recentemente, pelo curso dos debates pre-eleitorais que repesquei da internet. Segundo é afirmado, a tanto montará a taxa de desemprego em Portugal. Como é normal, governo e oposições não coincidem na estatística, e onde o executivo constata uma recuperação espectacular, vêem as oposições cosmética numérica, sobretudo o efeito da debandada de meio milhão jovens, mais coisa menos coisa, drenados para o estrangeiro por falta de oportunidades de trabalho no litoral português, que o interior há muito que está deserto e moribundo. Eu não me queria deter por aí além na alquimia dos números - se passava dos 18%, quando a actual coligação entrou em funções, caindo nos dias que correm de um terço do valor inicial, e mais que venha a aliviar, com os 207000 postos de trabalho que a engenharia ao serviço de Costa estima que um futuro governo socialista possa engendrar, ou com os mais modestos, mas ainda assim bem-vindos, 190000 que os sábios afectos ao governo projectam para um novo quadriénio com Passos ao timão.
Em abono da máxima transparência, e de melhor conta que dessem do Estado, não seria preferível que se falasse de nível de emprego? Sabem todos os governos - e se não sabem é porque não querem - quantos são os indivíduos que constituem a sua população. Não desconhecem, também, quantos desses cidadãos se encontram em condição de emprego, ou não arrecadem impostos e cotizações a cada mês vencido.
Saberão, se tal o quizerem, a composição etária da força de trabalho, e em paralelo o quantitativo dos que se encontram em formação, qualquer que seja o nível de ensino ou de qualificação. São contas boas de fazer, e qualquer meia-dúzia de folhas A4 daria um quadro nu e cru da realidade mès a mès, semestre atrás de semestre.
É que nos cansa a sobreposição concorrente de valores, e logo que uns detectam uma gloriosa quebra do desemprego e fumos de recuperação económica, logo outros precisam que tal se deve à depuração dos cadastros dos que deixaram de receber a prestação social, sem que a tal corresponda necessáriamente uma inversão da condição de infelizes inactivos, ou ao bater de porta dos que melhor se puseram a andar em busca de sorte noutras paragens.
Cansa a ginástica sueca dos números, e mais aborrece a confissão compungida, piedosa, de que não é aos governozinhos que compete a criação de trabalho: ai que isso é com os privados, com a dinâmica autónoma da economia! Nunca deixou de se falar em Portugal da urgência de revisões constitucionais, e não me recordo de que algum dos arautos dessa emergência avançasse com a supressão do artigo 58. É lê-lo, senhores, pontos um dois e três. Nem sequer é difícil de decorar, cinco magras linhas, não mais do que isso.
Tratam do desemprego como uma fatalidade individual, competindo sobretudo ao próprio reverter a sua situação, e quanto mais ele tarde em consegui-lo, mais isso reforça a conclusão de que será um desadaptado social, um pária, um peso morto. Vem dos tempos de Sócrates a flexisegurança, chavão que tantas bocas encheu. Era imperioso rever de fio a pavio os códigos de trabalho, fazer tábua rasa dos direitos dos trabalhadores, pois esses eram os cancros que contaminavam a oferta de emprego e a economia. E lá vinha o exemplo nórdico: pois não era pujante, a Dinamarca? Um mínimo de garantias, um máximo de facilidades no despedimento, um adeus para nunca mais aos contractos colectivos, um hurra aos acordos individuais. Estranhamente ficou por referir que, em condição de desemprego, um dinamarquês poderia ser apoiado durante quatro anos, findo o primeiro dos quais, persistindo a situação, entraria o indivíduo em programa de formação qualificante. É pena, mas já não fui a tempo de ser dinamarquês!
25 Fevereiro 2021
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