A responsabilidade de todos
Voz aos Escritores
2018-05-11 às 06h00
Danças os ventos que cobrem a cidade, que nos cobrem. Do alto finito da tua infância, espraias sonhos com as pontas dos dedos nos horizontes que o teu olhar alcança.
Desassossego. Vento é sinónimo de desassossego. Aquele que trazemos por dentro, a fervilhar, a fazer e a desfazer mundos, possibilidades, alternativas. Há um desassossego sempre presente, inerente à condição criativa. Uma inquietude. E há uma em particular que me abraça há uns meses, sem me dar criação. E a resposta está nas mãos dos nossos governantes. Ou, tão só, a escolha do caminho. Tenho lido e ouvido muito sobre o assunto, sobretudo o documentário 2077 10 segundos para o futuro, excelente serviço público da RTP, diga-se de passagem. O tom que se segue, como também sou professora, tem um olho no passado e outro no futuro.
Somos portugueses, carregamos uma história, uma cultura, uma identidade. E um património humano que nos envolve. Pertencemos a uma única espécie: a humana. Evoluímos. Ou mudámos. Como disse Prem Rawat, embaixador da paz, se nunca houvesse mudança ainda seríamos uma espécie de lodo no oceano. O que somos hoje, para o bem e para o mal, é devido a mudanças, que continuarão a acontecer. Dizem os especialistas que estamos na eminência de uma terceira grande revolução na nossa existência. Tivemos a Revolução Industrial, no século passado tivemos a Internet ou a revolução na comunicação e, ainda sem passarem cem anos, estamos na vertigem de uma revolução tecnológica. Ouvir os especialistas de diferentes áreas e os futurologistas é uma explosão mental. Mas é também motor de uma série de antecipações possíveis, de angústias e de prevenções. Milhares serão atirados para o desemprego e Bill Gates já falou sobre a necessidade de os robots pagarem impostos. A segurança social deve repensar o seu esquema de contribuições, bem como o destino das mesmas, sob pena de uma rotura daquilo que entendemos como Estado Social. Nenhum governo está preparado para o que vem aí, nenhum país. Sejamos esse país, sejam esse governo.
Numa linha de pensamento inevitável, milhares de pessoas no desemprego levam a outra consequência ineludível: a violência. A níveis nunca vistos ou sentidos no mundo ocidental. Não vou anunciar aqui o fim do mundo ou mergulhar numa paisagem dantesca. Há já países a discutirem um rendimento mínimo por pessoa, que terá de vir forçosamente de algum lado: revisão da carga fiscal, aumento da inovação, exportação da tecnologia ou de matérias-primas. Temos monumentos, história e paisagem natural a garantir um turismo de qualidade que passa pelo atendimento acolhedor, sem ser preciso falar na gastronomia e no vinho. Mas não podemos olhar para o turismo como o nosso Rei Midas. Acabaríamos com as pernas cortadas.
Avanço para questões imperiosas: o que é que as pessoas vão fazer? O que nos distingue das máquinas? O pensamento, a criação, a emoção. E é pelo que nos distingue que devemos fazer caminho. A investigação, a inovação, a ciência. A arte. Pintura, escultura, literatura, teatro, música. Quem somos? Quem queremos ser?
Não é pensar em problemas que ainda não existem. Eles já existem. E os governos que os pensarem a longo prazo serão os que proporcionarão melhor qualidade de vida aos seus cidadãos. Será este o Quinto Império que Fernando Pessoa referia nA mensagem? Gosto de pensar que sim. Gosto de pensar que aprendemos com a história, com a filosofia, com a literatura, com as artes, que a educação e o pensamento crítico nos salvarão. Gosto de pensar que a tecnologia é só uma ferramenta para nos ajudar a viver melhor, que nos trará mais liberdade e tempo para nos dedicarmos ao exercício dos valores maiores da humanidade. Partilho do entusiasmo da Rosi Braidotti, filósofa contemporânea, por vivermos numa época de grandes e rápidas mudanças, mas com a responsabilidade que estas exigem, no tempo certo. A tempo, portanto.
E gosto de pensar que o vento quente nos trará paisagens mais humanas, onde os teus pés possam voltear crescimentos a cada passo.
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