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Um mundo perigoso

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Um mundo perigoso

Ideias

2019-09-20 às 06h00

J.A. Oliveira Rocha J.A. Oliveira Rocha

Em 2015, Graham Allison, importante cientista político americano, escreveu um artigo na “The Atlantic” intitulado “A Armadilha de Tucidides”. Depois deste artigo, o mesmo autor desenvolveu-o num livro em 2017 e intitulado “ Destinados para a Guerra: Pode a América e a China Escapar à Armadilha de Tucídides?“
Para tentar analisar esta questão, de interesse universal, comecemos por Tucídides. Este grego escreveu, há cerca de 500 anos A. C. um livro intitulado “A História da Guerra do Peloponeso “, obra clássica no domínio das Relações Internacionais. Nele explica a guerra entre Atenas e Esparta. Estas cidades eram, na altura, os poderes dominantes na Grécia. E foi o rompimento da balança de poder- ou, melhor, a perceção desse rompimento- que levou Esparta a declarar guerra a Atenas. Citando Tucídides, cujo livro chegou até nós: “A verdadeira causa desta guerra é, na minha opinião, aquela que mais vezes tem sido ignorada. O crescimento do poderio de Atenas e o alarme que provocou em Esparta tornaram a guerra inevitável.” Sendo certo que a preponderância de Atenas consistia na expansão comercial, em quanto o poder militar era equiparado ao de Esparta. Ora a situação descrita por Tucídides é muito parecida com a atual USA/ CHINA. Em termos económicos a China está em vias de ultrapassar os USA, sendo certo que estes têm um poderio militar muito superior.
Allison examina de seguida, 16 casos de confronto provocados pelo desiquilíbrio do poder: catorze dos quais terminaram por guerra entre as potências dominantes. Somente em quatro casos o conflito não terminou em guerra. E o primeiro foi a substituição do Reino Unido pelos USA no começo do século XX; sendo certo que parte da opinião púbica inglesa da altura sublinhava que a Alemanha não seria o inimigo principal, mas sim os Estados Unidos. A guerra de 1915-1918 veio evitar um possível conflito entre os dois países, já que o Reino Unido saiu da guerra económica e financeiramente na bancarrota. O outro caso é o da guerra fria que opôs os USA à URSS. Só o medo evitou o confronto, tendo sido feito apenas no domínio económico. E aí a URSS saiu der- rotada.
Xi Jiping tem afirmado que a China não pretende ter o domínio global, mas pode ser tentada quando atingir a paridade militar, movida pelo ressentimento que tem em relação ao Ocidente, que durante 150 anos, desde a guerra do ópio, interveio sistematicamente na China. Além disso. A China sempre se considerou o centro do mundo. Da parte da Administração americana assiste-se a uma guerra sem quartel na subida das tarifas, imposta por Trump.
A investigação académica, manifestada em centenas de artigos, acentua que a guerra é improvável, apesar das provocações de Trump, tanto mais que a China ainda não tem o poderio militar para enfrentar os Estados Unidos. E que o futuro se inclina para um equilíbrio de poder, em que os Estados Unidos perderiam a posição dominante que obtiveram depois da queda da URSS. Muito provavelmente este equilíbrio envolveria outros países como a Rússia e a Índia.
Todavia tratar-se-á de um equilíbrio menos consistente e de uma globalização mais complexa, já que os valores do Ocidente e a ordem liberal não serão determinantes.
O medo de uma guerra nuclear, o fato de todos perderem com a confrontação e a existência de organizações internacionais para solucionar conflitos são importantes para a construção de uma nova ordem mundial não completamente liderada pelos Estados Unidos.
Não nos esqueçamos, porém, que que a declaração de guerra se baseia na perceção, pelo que a psicologia de massas é importante. E é da área da psicologia ( P. Gries J. Jing, 2019) que têm aparecido estudos muito interessantes. E neste contexto, a manipulação da opinião pública ganha muito relevo ( Veja-se o slogan de Trump: “ Make America Great Again”.
Esta análise fica para outra vez.

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