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Rio, os Calimeros e as Autárquicas

Braga - Concelho mais Liberal de Portugal

Ideias

2016-06-28 às 06h00

Jorge Cruz Jorge Cruz

Um voto de censura apresentado pelos eleitos socialistas na última reunião da Câmara Municipal de Braga teve como primeira consequência a quebra do verniz por parte de Ricardo Rio, que respondeu à proposta de Hugo Pires de uma forma desabrida, sem elegância e, mais grave, sem dar as explicações que o assunto exigia.

Na origem da censura do PS, que também mereceu a concordância do vereador da CDU, esteve a despesa de 76 mil euros com a renovação do gabinete da Presidência, despesa que resultou de um ajuste directo e que foi considerada sumptuosa e exagerada.
O Presidente da Câmara convocou, naturalmente, a maioria de que dispõe para chumbar o voto de censura mas, para além de transformar os vereadores da maioria em cúmplices dos gastos que a oposição pretendia censurar, não facultou os esclarecimentos que as boas regras democráticas impõem.

Classificar como “anedota” a proposta, plena de oportunidade e absolutamente legítima, diz bem da forma como Ricardo Rio entende ser a convivência democrática. Mas considerar, como o fez, que os eleitos socialistas “não têm legitimidade” para acusar o executivo da maioria de “desbaratar” o dinheiro dos contribuintes, ultrapassa todas as marcas e demonstra a verdadeira extensão do conflito de Rio com as regras democráticas. Ou seja, para o Presidente da Câmara, “um voto destes seria aceitável se fosse apresentado pelo vereador Carlos Almeida [da CDU], mas apresentado por quem tem telhados de vidro, é uma anedota”. E em defesa da sua tese, o edil repete algumas das acusações de despesismo com que ciclicamente brinda o anterior executivo.


A verdadeira laracha desta nova troca de acusações é a postura algo calimeriana que Ricardo Rio continua a adoptar sempre que as suas decisões são alvo de reparos. Nessas alturas, e como não aprecia ser contrariado, abandona o discurso argumentativo que deve ser apanágio de um democrata e opta por uma sempre condenável postura de vitimização para justificar decisões, digamos, pouco democráticas. Criado este quadro, passa ao ataque cerrado, despropositado e desproporcionado, como ainda agora sucedeu, o que obrigou Hugo Pires a requerer a extração de uma certidão das afirmações de Rio, para eventual participação por difamação.

Mas será assim tão difícil perceber que a gestão do anterior executivo já foi escrutinada quase há três anos e que, também por essa razão, aqueles que então foram sufragados não podem insistir constantemente nas mesmas críticas? E não podem, principalmente, porque foram eleitos com base em promessas de que os erros seriam corrigidos e em compromissos de que a sua forma de actuar seria substancialmente diversa. Não foi necessário esperar muito tempo para constatar que afinal bem prega Frei Tomás…

O próximo episódio da discussão do mais recente despesismo de Ricardo Rio deverá acontecer já nos próximos dias, na sessão da Assembleia Municipal, órgão no qual está representada a CeM, força política que primeiro trouxe o assunto para a praça pública. Embora não seja difícil adivinhar os diferentes posicionamentos, será sempre interessante saber-se quem acha normal gastar 72 mil euros na renovação de um gabinete e, de entre esses, quem vai replicar o papel de Calimero.

É que não nos podemos esquecer que já há gente em demasia com o pensamento nas autárquicas do próximo ano e, portanto, mais interessada em dar nas vistas e mostrar serviço do que propriamente em cumprir a missão que lhe foi confiada pelos eleitores. E com esta inversão de prioridades e de valores, com a priorização dos interesses pessoais e/ou partidários em detrimento do interesse público, é a democracia que, mais uma vez, sai penalizada.

De facto, nas hostes do PSD parecem ainda subsistir algumas dúvidas sobre os benefícios eleitorais da manutenção da coligação com o CDS-PP e essas hesitações, que recente sondagem pretenderia esclarecer, podem condicionar de algum modo as relações políticas entre eleitos dos dois partidos. Depois, porque a cobiça pelo poder origina frequentemente lutas intestinas para obtenção de um lugar elegível.

Nas bancadas da esquerda a expectativa decorre da difícil situação que o PS ainda atravessa. Com eleições internas marcadas para a próxima semana, os socialistas vão ter quer arrumar a casa, desta vez creio que deixando de parte a procura de consensos artificiais, logo periclitantes, entre correntes completamente antagónicas. Desse ponto de vista, quer-me parecer que a questão fundamental é bem simples: ou o PS se contenta com a probabilidade de retirar a maioria a Ricardo Rio ou, pelo contrário, demonstra maior ambição e, nesse caso, tenta ganhar a autarquia com uma solução mais alargada.

Admito que as duas candidaturas no terreno são lideradas por verdadeiros socialistas, que almejam o melhor para o partido e acreditam poder operar a desejável e necessária mudança. Mas parece-me que protagonizam aquelas duas formas diferenciadas e, de certo modo, incompatíveis de encarar o futuro próximo. E, sinceramente, não creio que este seja o tempo da condescendência, o tempo da continuidade. Não, esta é a conjuntura apropriada para, sem renunciar o passado, assumir a ruptura. Com novos protagonistas, com novas ideias, com gente que privilegie causas e que se não limite a discutir pessoas, com gente que faça do diálogo e da discussão política a sua forma de estar. Se assim acontecer, acredito que a esquerda terá motivos de alegria.

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