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Que futuro para o trabalho?

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Que futuro para o trabalho?

Ideias Políticas

2018-05-30 às 06h00

Pedro Sousa Pedro Sousa

No último artigo que, a 1 de Maio último, assinei para o Jornal Correio do Minho, abordei a problemática do desemprego jovem, os números altíssimos que esta continua a registar e os possíveis impactos que, no contexto da União Europeia, tal realidade pode ter, sobretudo num tempo em que a construção europeia se encontra assolada por um emaranhado de dúvidas sobre a identidade que deve assumir para o futuro.
De facto, a última década, década e meia da construção europeia, reforçou a ideia de uma Europa cada vez mais esquecida e afastada do seu ideário fundador, afastando-se dos seus valores matriciais da prosperidade partilhada, do social acrescento e da paz, traços de carácter que a tornaram o mais belo e mais conseguido projecto político que o mundo contemporâneo pôde conhecer.

Uma visão de tendência germanófila, fria, monetarista, desconexa no pensamento e na acção e incapaz, porquanto desfasada das verdadeiras necessidades e prioridades da construção europeia, de enfrentar alguns dos problemas centrais da UEuropeia, tais como o urgente aperfeiçoamento do euro, da moeda única, o problema, urgente, das alterações climáticas, a definição, com base numa visão humanista, de uma estratégia clara para as políticas migratórias e uma resposta, também ela esclarecida e estruturada, para o flagelo do desemprego jovem.
Aqui chegados, gostaria de reflectir um pouco sobre o futuro do mercado de trabalho, sobre o futuro da organização do trabalho, sobre o trabalho em si mesmo e sobre o que este nos reserva, tanto já nos dias de hoje, como no futuro.

A enquadrar esta reflexão surge-me como essencial entender os conceitos de Mercado, Natureza e Tecnologia, sobretudo a forma como estes, em plena, acelerada e permanente mudança, se relacionam entre si.
Por mercado refiro-me à globalização, sobretudo à digital e de que são exemplos, na última década, os fenómenos do Facebook, do Alibaba, do Twitter, da Amazon, do Instagram, do armazenamento de dados na cloud/nuvem, entre muitos outros; a Natureza, enquadra todo o contexto das alterações climáticas, a perda crescente de biodiversidade que, um estudo recente, dá conta que teve, desde os tempos mais primordiais e por acção do homem, registou uma perda de 83% de todos os mamíferos selvagens e de mais de metade das plantas; ao nível da tecnologia, e entre muitas outras métricas que poderia utilizar, parece-me interessante o dado que demonstra que a velocidade e a potência dos microchips são, aproximadamente, duplicados a cada dois anos, facto bem demonstrativo do avanço implacável da tecnologia.

A verdade é que grande parte das mudanças que se vêm registando em todos estes domínios, tem, sobretudo, que ver com as enormes mudanças que se tem registado no campo da tecnologia. Mais tecnologia cria mais globalização e interconectividade, e mais globalização leva a mais e maiores alterações climáticas, bem como mais soluções para essas mesmas alterações.
É interessante recordar que, entre o fim do ano de 2006 e o final de 2007, o iPhone foi lançado, o Facebook abandonou os campus dos institutos e universidades e tornou-se um fenómeno global, foi lançado o Twitter, o Kindle e o Android, assim como foram apresentados o Github, o Airbnb, o armazenamento de dados na nuvem/cloud, ao mesmo tempo que o preço da sequenciação do genoma humano colapsou, o Google comprou o YouTube e a Intel, após muitas tentativas, abandonou o silício como principal componente dos seus microchips.

Em cerca de 16 meses, registaram-se novidades e avanços incríveis, mas o contexto macro-económico global fez com que muitos deles não tenham merecido a atenção devida.
A resposta para esta realidade é que estávamos em 2008, mergulhados na maior recessão económica a que o mundo assistiu desde a grande depressão de 1929 e embora nossa tecnologia tenha dado um enorme salto em 2007 e 2008, muitas das mudanças sociais, políticas e legislativas que deveriam acompanhar esta tendência foram, subitamente, congeladas em 2008 e nos anos seguintes.
A verdade é que todas estas mudanças que tem acontecido ao nível do Mercado, da Natureza e da Tecnologia não estão, apenas, a mudar o mundo. Elas estão, também, a ajudar a mudar a política, a geopolítica, a ética, o local e a organização do trabalho, bem como a toda a sociedade.

O que é que isto significa para os estudantes e trabalhadores portugueses e europeus?
A resposta, curta e grossa, é que a mediocridade acabou. Nos dias de hoje, são cada vez mais as máquinas que podem fazer mais coisas do que a média do trabalho físico e cognitivo.
Basicamente, cada trabalho da chamada classe média, excluindo casos muito específicos, está a ser, de uma só vez, empurrado em três direções: para cima (requer mais habilidade/capacidade ou um requisito/competência estritamente humana), para fora (compete com mais máquinas, robots ou trabalhadores da Índia ou da China) e para baixo (será obsoleto mais rápido do que nunca).
Os países, empresas e trabalhadores que melhor se estão a adaptar a esta realidade são aqueles que estão, com estratégia e rapidez, à importância da educação ao longo da vida, a um contexto de aprendizagem e de banda larga.
A ideia de que irás para a universidade por três/quatro anos e aí armazenarás todo o conhecimento necessário para os próximos trinta anos de vida activa é algo do passado.

Ao contrário dos seus Pais, muitos dos jovens de hoje terão de "inventar" um emprego. Bem, alguns conseguirão o seu primeiro emprego, mas para o preservarem e conseguirem ser reconhecidos no exercício do mesmo, conseguindo ver os seus salários crescer ao longo da vida, num contexto natural de progressão na carreira, terão, regulamente, de reinventar quer o seu trabalho, quer de se reinventarem a si próprios como prestadores do mesmo, demonstrando capacidade para se adaptarem ao ritmo feroz da mudança.
Quais serão os melhores empregos do mundo? Vários autores que abordam a evolução do trabalho, falam hoje do conceito de STEMpathe.
Uma banda larga de competências que combina habilidades STEM science (ciência), technology (tecnologia), engineering (engenharia) e maths (matemática), tudo isto polvilhado, ao longo de toda a vida, com a indispensável empatia humana.
Esta realidade, colocará grandes desafios aos países e também aos governos que não poderão deixar de agir, por forma a tentar garantir igualdade de oportunidades, procurar corrigir assimetrias e minimizar injustiças, mas sobre isso falarei numa próxima oportunidade.

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