Braga - Concelho mais Liberal de Portugal
Ideias
2019-08-02 às 06h00
Têm, pelo menos, cinquenta dias de pausa por ano, que na prática representa o dobro das férias de todos os outros funcionários públicos, já para não falar dos que trabalham no privado. É verdade que levam muitas vezes trabalho para casa – uma exigência que está longe de ser um exclusivo e que se coloca a um cada vez maior número de profissões - , mas a carga horária semanal de exercício efetivo da atividade anda à volta das 24 horas, menos 11 horas semanais que as restantes atividades exercidas no público e menos 16 do que as exercidas no privado, precisamente para atender a essa situação. Segundo um relatório internacional que há uns meses foi tornado público, ganham em média mais do que os outros trabalhadores com formação superior em Portugal, uma tendência que até contraria a maioria dos países da OCDE.
O que surpreende não é tanto as constantes reivindicações e aspirações da classe docente nacional, muitas vezes manifestadas em forma de greve. Essa é uma legitimidade de qualquer grupo profissional, que se deve respeitar e, conhecendo-se o país, ninguém dúvida que também neste caso existam razões de sobra para o fazerem. O que vai moendo a paciência é o choradinho constante sobre o alegado desgaste psicológico maciço da classe, a vitimização permanente quanto às condições da carreira, a sobranceria de se acharem mais importantes e determinantes do que os profissionais de outros setores. Tenho pelos professores o maior respeito. Aliás, para que não restem dúvidas, possuo uma licenciatura e eu próprio passei gratificantemente pelo ensino, como passei pelo setor privado e agora estou no público. E esta minha experiência permite-me dizer com convicção que, apesar de tudo, os professores são uma classe privilegiada no país.
A verdade é que mais ninguém tem tantas pausas para recuperar do desgaste provocado pela profissão como têm os professores. E não me venham com a conversa que trabalhar com alunos é que é difícil. Também o é ser prolongamento de uma máquina com registos de produção implacáveis, atender doentes humanamente fragilizados durantes horas a fio, trabalhar nas obras ao sabor do tempo e escrever notícias a contrarrelógio, ouvindo fontes nervosas, verificando factos obscuros, perscrutando ligações complexas. Pois é: sem estes últimos não existiam jornais, sem os anteriores não se construíam casas, sem os segundos não haviam cuidados de saúde e sem os primeiros não tínhamos, por exemplo, vestuário.
Acreditem, não estou a subestimar a importância do papel do professor na sociedade. Simplesmente considero que há tantas outras atividades igualmente importantes que não alinho no destaque. E como eu, e muita gente como eu, não tenho muita pachorra para os lamechas. A nossa paciência esmorece e com tanto lamento através das suas estruturas representativas é bem provável que os professores percam cada vez mais a sua graça aos olhos da sociedade. Dou de barato que o problema poderá estar mais nos sindicatos que os representam, e na forma como os assuntos são colocados na praça pública, do que propriamente nos professores, mas são estes que alinham e se deixam representar. Depois não se queixem!
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