A responsabilidade de todos
Voz às Escolas
2019-02-11 às 06h00
Começam a vir a público, através da comunicação social, preocupações profundas que vêm assolando as escolas nos últimos anos, agora com cada vez maior gravidade e atualidade. Falamos da falta de professores.
Um dos principais alertas foi dado pelo Conselho Nacional de Educação no seu relatório Estado da Educação 2017, de 16 de novembro de 2018 que aconselha “Tendo em conta o envelhecimento da população docente e a redução na procura dos cursos de formação de professores, urge fazer e divulgar rapidamente um estudo da necessidade de novos professores ara os diversos grupos de recrutamento”.
Este é um diagnóstico preocupante, que aponta para uma previsibilidade de rutura que não tardará mais de uma década a fazer-se sentir.
Num estudo realizado para o Conselho Nacional de Educação (CNE), com base no relatório dos testes PISA 2015 da OCDE, apenas 1,5% dos estudantes de 15 anos virão a ser professores. Se esta informação, por si só, é grave e preocupante, assume maior relevância se a compaginarmos com o facto de que, até 2032, dois terços dos docentes em exercício de funções irão aposentar-se. O algoritmo é simples mas o resultado é assustador.
E como chegamos aqui? Haverá visões diferentes do que estará na génese deste problema, mas concordaremos com o princípio de que a profissão não é atrativa, apesar da evocação sistemática, por alguns, de alegados privilégios que, a serem reais, teriam antes provocado uma corrida aos cursos destinados ao ensino e a um excesso de procura pela carreira docente.
Na verdade, em flagrante contraciclo com as conquistas alcançadas na Educação e pelas escolas em Portugal, nos últimos anos tem-se verificado uma desvalorização da profissão que emerge, entre outras razões, da falta de investimento na área de educação, das cada vez mais difíceis condições de trabalho, dos salários pouco atrativos quando comparados com outras carreiras, da instabilidade no início do percurso profissional no que se refere a mobilidade, da fragilização do papel do professor e da sua desvalorização social.
Ora os alunos são plateia privilegiada para observar e avaliar o estado das coisas e extraírem daí as suas conclusões e decisões. Não será, portanto, de estranhar que a docência não seja aliciante para esta geração de alunos, que conquanto eles próprios tenham uma imagem positiva dos seus professores, constatam que existe uma desproporção entre o que é exigido, hoje em dia, aos professores e as compensações que recebem.
Entretanto, sobrevieram outros fatores que tornam a questão cada vez mais urgente e que se referem, não ao futuro próximo, mas à atualidade. Para além do envelhecimento e a ausência de procura de cursos de professores, surgem, com cada vez maior frequência, o abandono da opção pelo exercício da docência por muitos que têm habilitações para tal e a não-aceitação de horários atribuídos em concurso.
Estas circunstâncias têm provocado dificuldades na colocação e substituição de professores um pouco por todo o país, mas com maior incidência nas zonas de Lisboa e do Algarve. Na prática, tal como está o custo de vida, a deslocação de um docente para exercer as suas funções para uma localidade diferente da sua morada habitual, muitas vezes em horários temporários e incompletos, resulta em seu claro prejuízo, sendo, por isso, incomportável, irracional e desumano fazê-lo. Estas situações são cada vez mais frequentes e prejudicam, acima de tudo, os alunos envolvidos.
Urge mudar este rumo. Poderá ser útil conferir experiências (boas e más) realizadas noutros países europeus, mas a mudança terá de envolver toda a sociedade. No entanto, espera-se dos nossos governantes que deem sinais de que a Educação é o alicerce principal para o nosso futuro comum, de que o papel dos professores é essencial no sistema educativo, de que pretendem, de facto, prevenir as sombrias previsões para o futuro com medidas de planeamento na formação de professores e de valorização da carreira docente, de modo a que não venha a ser necessário recorrer a expedientes para mascarar a realidade, quando já for tarde demais.
14 Março 2024
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