Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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Patriotas à força

Braga - Concelho mais Liberal de Portugal

Ideias

2010-05-24 às 06h00

Artur Coimbra Artur Coimbra

1. O primeiro-ministro José Sócrates não se cansa de sustentar que é necessário um grande “esforço patriótico” para fazer sair o país da gravíssima crise em que se atolou. Ou em que o atolaram.
Em Ponte da Barca, no fim-de-semana passado, afirmou mesmo: “conheço o povo português e sei que todos estão disponíveis para fazer um esforço para que todo o país viva melhor e para que possamos ultrapassar as dificuldades. Mas esse esforço tem que ser distribuído por todos, tem de ser um esforço nacional, um esforço que eu chamaria patriótico”.
É claro que, a bem ou a mal, todos hoje em dia somos “patriotas”. Quanto mais não seja porque o Governo nos vai sacando do bolso o “patriotismo” necessário para enfrentar a crise. São “patriotas”, nem que seja à força, todos os trabalhadores a quem vai ser agravada em mais 1,5% a taxa do IRS. Ou os detentores de cargos políticos que vão ficar aliviados, durante uns anos, de 5% do seu ordenado. Como são “patriotas” todos os portugueses que vão ter de suportar o aumento do IVA em 1 ponto percentual, que, no caso dos bens essenciais, significa um acréscimo de 20% dos produtos de primeira necessidade. E “patriotas” não deixam de ser as instituições bancárias e financeiras que vão “ajudar” a pagar a crise.
José Sócrates parece agora um humilde menino de coro, a explicar aos portugueses (que não estão muito convencidos) todos os sacrifícios que vão ter de enfrentar para pagar uma crise que eles não provocaram. Não foram os trabalhadores que fizeram disparar o malfadado défice de 3 para 9,3% em poucos meses; não foram os trabalhadores que provocaram o maior desemprego de sempre, em Portugal e no estrangeiro; não são os trabalhadores que decidem dos impostos ou das obras públicas. Portanto, são eles, mais que nenhuma outra classe social, os “patriotas à força”.
Tal como outros míticos chefes de governo, de antes e do pós-25 de Abril, alguns de boa e outros de má memória, Sócrates pensa-se investido de uma missão salvífica do reino dos mortais que todos somos. Quase um sobrehumano que vive e moureja, não para ele, simples e honesto servidor, mas para essa realidade simbólica e abstracta que é o País, ou a “Pátria”. Um salvador, como que um messias redentor que sacrifica os seus dias para que os portugueses consigam sair de uma crise… que, repete-se, não provocaram.
Disse o primeiro-ministro à RTP, na noite da passada terça-feira: “eu não me preocupo com a minha imagem, nem com o meu futuro político. A minha preocupação é o País”.
Os portugueses ficam absolutamente rendidos, encantados, comovidos por terem assim quem os defenda das dificuldades, quem se disponha a ocupar as trincheiras da frente no duro combate pela reconstrução do futuro deste recanto à beira mar plantado.
O esforço é colectivo, comum, de todos os portugueses, de todos os partidos, a começar pelo PSD que, bem vistas as coisas, não está a ajudar o Governo, mas sim o País. O nosso primeiro dixit.

2. O treinador da selecção luso-brasileira, Carlos Queiroz, teve o desplante de não convocar para o Mundial da África do Sul o guarda-redes da equipa campeã nacional 2009/2010, alegando que Quim é só “presente” e não “futuro”. Chamou, em contrapartida, o guardião da equipa classificada em segundo lugar, o terceiro guarda-redes da equipa classificada em terceiro lugar e um guardião, grande de tamanho mas de que se conhece apenas o nome. Só pode ser obra de fic-ção, mais adequada ao outro Queiroz, bem mais brilhante, convenhamos, o Eça!...
Quim alinhou em todos os jogos do campeonato que terminou, sendo o guarda-redes menos batido da competição. Deveria merecer mais respeito, mais consideração. Mas isso parece não ser relevante…
Curiosamente, os brasileiros Deco e Liedson têm 32 anos cada, mas parecem ser inquestionáveis para Queiroz. Não sei se por serem brasileiros ou por serem jogadores de indesmentível e promissor “futuro”, devendo jogar ainda nos próximos dez ou vinte anos, se o seleccionador continuar o mesmo!...
O outro “português”, Pepe, foi patrioticamente convocado, apesar de coxo e de não jogar há meses, estando numa forma física mais apropriada para jogar uma suecada em qualquer pi-quenique por esse país além. Mas é brasileiro e isso parece ser certificado de qualidade para a selecção de Queiroz, nem que deixe de fora atletas portugueses de qualidade indesmentível, como todos sabemos!... E pensarmos nós que o treinador da selecção luso-brasileira foi seleccionador e impulsionador dos escalões jovens da selecção portuguesa (essa, sim…), há anos atrás, altura em que lançou jogadores magistrais como Rui Costa, Figo, João Pinto e tantos outros!... Que saudades!
Posso parecer ronhoso (não ranhoso, que é outra coisa bem distinta…), mas continuo a achar que uma selecção deve integrar apenas jogadores nados e criados no respectivo país. A naturalização é apenas um acto administrativo, que para o caso não importa. A selecção não é uma equipa de futebol; é uma identidade, é uma paixão, é um hino, uma bandeira, uma alma, um sentimento, é algo que, ao nível do afecto, nos religa ao nosso espaço comum e à nossa História. E isso os estrangeiros naturalizados não cumprem; muitas vezes, nem o hino sabem, quanto mais sentir a alma dos “lusitanos” ou dos “viriatos”…

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