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Ouve-se tantas vezes, mas está errado

Os bobos

Ouve-se tantas vezes,  mas está errado

Escreve quem sabe

2019-06-02 às 06h00

Cristina Fontes Cristina Fontes

*“Estava a falar com o polícia onde ele disse que tinha havido um acidente.” Foi a partir desta frase ouvida um destes dias que decidi escrever este artigo.
À partida, torna-se complicado perceber esta “moda” de usar o advérbio relativo “onde” em frases deste género, pois só se deve utilizar com nomes que exprimam um espaço físico (ex.: Braga é a cidade onde vivo).
Porém, se este erro é facilmente detetável, por vezes não nos apercebemos de outros usos errados de “onde”. Quando o nome a que nos referimos possui um valor semântico de tempo e não de espaço, não devemos usar “onde”, mas sim “que” ou “qual” antecedidos da preposição “em”, simples ou contraída (ex.: O jogo em que / no qual participei). Reparem que “jogo” não traduz um espaço físico, mas um evento que decorre num espaço físico, durante um determinado período de tempo. Outros exemplos são: aula, reunião, cerimónia, espetáculo, programa, concerto etc.

Mais bem ou melhor? O advérbio “bem” tem duas formas para o comparativo e para o superlativo – mais bem (regular) e melhor (irregular). Vejamos quando usar uma e outra. Se o advérbio modificar o verbo, utiliza-se a forma irregular (ex.: O João leu melhor do que a Rita.). Contudo, se a palavra modificada for um adjetivo, deve usar-se a forma regular (ex.: O João ficou mais bem classificado no concurso de leitura.).
A mesma regra deve ser seguida para o advérbio “mal” (pior / mais mal).
Os verbos com duplo particípio - a forma regular (ou fraca) e a forma irregular (ou forte) - também causam algumas dúvidas. A regra é simples: se a frase tiver os auxiliares “ter” ou “haver”, devemos usar a forma fraca (ex.: Ele tinha imprimido o texto.); se a frase tiver os auxiliares “ser” ou “estar”, a forma a usar é a forte (ex.: O texto foi impresso por ele.).

Vejamos alguns exemplos de verbos com duplo particípio que, frequentemente, são mal conjugados:

Aceitado/aceite (ex.: “Após ter aceite fazer dupla com Manuel Luís Goucha, Maria Cerqueira Gomes reage ao convite.”, revista TVMais, de 16-11-2018);
Elegido eleito (ex.: “Nuno Melo refere que "Portugal perde" por não ter eleito Pedro Mota Soares para o Parlamento Europeu.”, em https://www.rtp.pt/noticias/politica/eleitores-escolhem-novo-parlamento-europeu_e1150023, acedido em 30-05-2019).
Ganhado/ganho (ex.: “Os activistas do clima podem ter ganho um novo aliado — Banksy.”, em https://www.publico.pt/2019/04/29/culturaipsilon/noticia/activistas-clima-podem-ganho-novo-aliado-banksy-1870835, acedido em 30-05-2019).
Limpado/limpo (ex.: “EDP responsabiliza autarquia por não ter limpo a floresta.”, em https://www.dn.pt/pais/interior/pedrogao-grande-edp-responsabiliza-autarquia-por-nao-ter-limpo-a-floresta-10121587.html, acedido em 30-05-2019).
Salvado/salvo (ex.: “Família em risco de perder casa após ter salvo porco de abate.”, em https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/familia-em-risco-de-perder-casa-apos-ter-salvo-porco-de-abate, acedido em 30-05-2019).
Há linguistas que já aceitam o uso de algumas formas fortes com os verbos auxiliares “ter” e “haver”, dada a proliferação do seu uso. Um exemplo é o verbo “pagar” (ex.: Ele já tinha pago a conta.).Contudo, poderá sempre dizer “Ele já tinha pagado a conta”.

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