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O povo esquecido

A responsabilidade de todos

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2018-08-29 às 06h00

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Autor: Carlos Ribeiro

A.ntigamente, existiu um povo chamado lusitano…Gente garbosa e orgulhosa da sua independência, viviam em condições pré-históricas e humildes, com a distribuição da riqueza oriunda da agricultura e pescas bem definida. Cada um tratava do seu afazer; pescava, caçava, cultivava legumes, fruta, ou criava gado e, na altura da bonança trocavam os bens entre si amparando-se uns aos outros. Bravos por natureza, rechaçavam qualquer tentativa de conquista e domínio estrangeiro. Os romanos andaram anos a fio a tentar empurrá-los pelo mar adentro, até que finalmente o conseguiram, ocupando assim toda a península.
Os anos passaram, muitos anos mesmo e foram-se demarcando fronteiras. De povos nómadas na sua grande maioria, tornaram-se sedentários, criando países com nome próprio e culturas diferentes. Nessa evolução, acabou por nascer Portugal, com os seus reinos, cortes, feúdos e um povo que, orgulhosamente, se considerava descendente único e directo dos lusitanos.

Orgulhosamente sós, vivemos todas as épocas desde Viriato até aos dias de hoje, passando ao lado de alguns grandes conflitos europeus e mundiais, enfarinhados nas nossas próprias guerras internas e na procura incessante de nos mantermos afastados dos conflitos. Líderes, inteligentes ou não, mas com capacidade de perceber os fracos recursos naturais do nosso país, levaram-nos a procurar pelos vários cantos do mundo todas as formas possíveis de enriquecermos o nosso cantinho à beira mar plantado. Durante algumas dezenas de anos as coisas correram bem, mais devido à ignorância do povo a correr atrás de algum “el-dourado”, emigrando para África, Europa ou América, fugindo assim a um país parado no tempo, velho e sem perspectivas de renovação.
Porém, tal como a nossa vida, os países também vivem de ciclos e era uma questão de tempo até ter que absorver os que saíram e mais alguns milhares de descendentes. Mais recentemente, até alguns que vieram, simplesmente corridos dos seus paises de origem em guerra. Os ditos refugiados…

O século XX trouxe-nos uma fabulosa era de evoluçao, com as cidades a crescerem a um ritmo alucinante, os meios de transporte a resolver em horas o que uns anos antes demorava dias e até meses, a procura desenfreada dos bens de consumo mais atuais, a tentativa de que cada um dos nossos filhos fosse o melhor em tudo, a busca de prazeres efémeros e intensos, a acumulação de bens materiais da melhor qualidade e em quantidade, enfim, uma corrida obrigatória que nos impedisse de pensar, racicionar, parar para viver e corrermos o risco de sermos ultrapassados pelo vizinho do lado!

Finalmente, chegou a internet. O mundo redescobriu-se e tudo passou a ser mais rápido, mais falso e mais castrador. As empresas depressa descobriram o poder controlador sobre as massas laborais, os meios de comunicação aceleraram o processo da publicidade que passou em entrar de todas as formas dentro das nossas casas sem que a pedíssemos, a informação passou a chegar quase em tempo real a qualquer parte, a esperança de vida aumentou drasticamente criando roturas e enormes dificuldades de financiamento aos sistemas de apoio social e os jovens reinventaram novas formas de se entreter isolando-se cada vez mais. Não raramente, encontramos familías inteiras num café ou restaurante, cada um deles agarrados frenéticamente ao seu telemóvel indiferentes a tudo o que os rodeia. Durante uma ou duas horas que duram a refeição, consegue-se não se trocar uma única palavra banal entre eles. Embrenhados nos seus problemas, amores, jogos, vícios ou coscuvilhices, funcionam como seres sem ligação, sem principio, meio e fim.

Sempre soubemos que a evolução teria um preço a pagar! O povo rural começou a desaparecer com a idade e a migração para as cidades onde, supostamente, tudo acontece. A pequena indústria foi esmagada e absorvida pelos grandes grupos económicos, deixando de ser rentável a sua existência. A quota das pescas passou a ser decidida e controlada pelas potências estrangeiras. O pequeno comércio deixou de existir sem poder competir com os preços praticados pelas grandes superficies. E o ciclo renova-se… Mais gente, mais ambição, os mesmos fracos recursos e temos uma balança perigosa e instável onde cada altercação pode resultar em tragédia. Disputas de palavras e insultos no trânsito que levam a cenas de pugilato, ou pior, lamentáveis. Famílias que se auto destroem por iniciativa própria, cansadas da monotonia do dia a dia. Frustrações e depressões oriundas quase sempre da falta de projectos, de objectivos, de sonhos. Crianças e jovens sem nada para fazer a não ser olharem para o ecran de um telemóvel ou portátil, à procura de respostas que nunca encontram. Organizações de ajuda humanitária a braços com enormes dificuldades de sobrevivência. Governos desgovernados, à deriva…
Mas somos o povo lusitano!
De uma forma ou de outra, os nossos antepassados velam por nós e vamos sobrevivendo a todas as eras com orgulho de sermos portugueses, de criarmos os nossos métodos de viver com mais ou menos desenrasque. Dia a dia, vamos evitando tormarmo-nos num povo esquecido...

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