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Mudança tecnológica, futuro do trabalho e ética social

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Mudança tecnológica, futuro do trabalho e ética social

Ideias

2019-02-23 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

Encontramo-nos no limiar de uma profunda mudança tecnológica, nomeadamente com a introdução das novas tecnologias digitais, com destaque para a robotização do trabalho e a inteligência artificial (IA), o que não deixará de produzir efeitos marcantes no mercado de trabalho no futuro. A questão fundamental é então “o que irá acontecer ao emprego com o desenvolvimento dos novos avanços tecnológicos?”
A análise histórica sobre a evolução do emprego face às várias revoluções tecnológicas tem sido feita desde o século XIX, por economistas de vários quadrantes ideológicos, como são os casos de David Ricardo (liberalismo), Karl Marx (marxismo) e John Maynard Keynes (intervencionismo). Mas será que a sofisticação da tecnologia e das máquinas necessariamente substituem cada vez mais trabalho humano? Ora, os avanços tecnológicos (as revoluções industriais) implicam na automação de numerosos ofícios, muitos deles monótonos e repetitivos e, logo, implicaram na extinção de muitos postos de trabalho?
Como resposta a essas questões temos, por um lado, estudiosos, como Christopher Pissarides (prémio Nobel da Economia/2010), que transmitem uma ideia optimista dos efeitos da mudança tecnológica no mercado de trabalho. Em Pissarides a mudança tecnológica actual implicará na destruição de “apenas” 10% a 30% dos postos de trabalho. Pelo contrário, outros estudos têm uma visão mais pessimista, como as instituições PwC e Deloitte,

onde a mudança tecnológica actual acarretará a extinção de mais de 40% do emprego na próxima década. Nesta linha de pensamento está também um recente estudo ao apontar que 47% dos empregos nos Estados Unidos estão ameaçados de destruição devido a substituição tecnológica. Seja como for, defende-se:

(1) Que a mudança tecnológica é um processo onde se destrói postos de trabalho tornados “desnecessários”, mas também se criam novas oportunidades de emprego com outros tipos de competências.
(2) Que a maior parte dos sectores de criação de novo emprego se irão desenvolve nos sectores onde a produtividade do trabalho é baixa (e baixos os salários) e onde o potencial de expansão de produtividade é reduzido! Exemplo disso mesmo é o que sucede no sector dos serviços, nomeadamente cuidados de saúde, apoio à terceira idade e turismo.
(3) Quer dizer, no futuro haverá transferência de trabalhadores dos sectores mais sensíveis à mudança tecnológica para os sectores mais exigentes de competências humanas, ou seja, com mais criatividade, empatia e sensibilidade. Então, seja qual for o cenário o grande desafio do futuro é a reconversão do trabalho ajustando-o à nova realidade imposta pela mudança tecnológica.
(4) Porém, em todo esse processo de transição mais ou menos longo, mais ou menos doloroso, os governantes deverão ter como preocupação maior que essa transição se faça garantindo os valores da ética social: direito ao trabalho e a protecção social. Para isso, é indispensável que se adoptem políticas públicas que apoiem na fase de transição os trabalhadores em reconversão para os novos empregos, bem como para os trabalhadores que no processo percam o seu posto de trabalho, através, de uma adequada política de subsídios de desemprego.

Claro que isso acarreta uma pressão crescente sobre a despesa pública o que poderá contrariar as “regras orçamentais” restritas existentes na União Europeia (UE). É, assim necessário que as normas orçamentais comunitárias se tornem mais flexíveis e se abandone a ideia de austeridade excessiva. Apesar de toda esta problemática se encontrar em geral consciencializada e não sendo de fácil resolução, a verdade é que até agora a governação da União Europeia pouco ou nada fez nesse sentido. Mas, o tempo passa demasiado rápido!

Concluindo, os processos de mudança tecnológica e os seus efeitos económicos e sociais estão a ser objecto de um cada vez maior número de estudos. Há, desde logo, o receio expresso por frases como “A robótica vai tomar conta dos nossos postos de trabalho”! “A inteligência artificial vai administrar as nossas vidas! O desemprego irá elevar-se”!
Mas, é de referir que existe uma maior ou menor compensação da destruição de emprego por novas oportunidades de emprego, quer no quadro dos sectores de alta tecnologia por qualificação dos seus trabalhadores, quer no quadro da reafectação de trabalhadores dos sectores com mais automação para outros sectores mais “humanizado”, exemplo dos serviços, em particular, cuidados de saúde, apoio à terceira idade e turismo. Torna-se, assim, necessário que na transição que se segue à robotização e à IA da economia que sejam acautelados os valores éticos sociais consensuais: superioridade humana sobre as máquinas, garantia de emprego e de protecção social aos trabalhadores.

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