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Braga, terça-feira

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Mãe, mãe…

A responsabilidade de todos

Mãe, mãe…

Voz aos Escritores

2018-11-09 às 06h00

Fabíola Lopes Fabíola Lopes

- Mãe, o que é um risco?
- É uma linha que nos leva do ponto A ao ponto B, do início até ao fim.
- Não, mãe, não é nesse sentido. É correr o risco…
- Ah! Nesse sentido acho que é mais difícil explicar. É arriscares algo sem saberes como é que vai correr. Ou até que antecipas que poderá correr mal, mas mesmo assim tens vontade de fazer para ver se corre bem. Arriscas. Às vezes é um salto de fé.
- Pois… como a ministra da cultura, a Graça Fonseca?
- Sim, ela arriscou bastante. Num país onde ainda há tanta mobilidade para a fachada da cultura relativamente a um ato bárbaro, o fazer sofrer um animal, fazer sofrer o outro, deliberadamente, num ambiente de espetáculo e de exibição…
- Não entendo, mãe.
- Pois eu gostaria de nem ter de te explicar. Há coisas que não fazem mesmo sentido nenhum e sempre pensei que estivessem resolvidas, de tão básicas que são, antes até de tu nasceres. Mas não. E não tem a ver com alas políticas ou sequer com ideais. Tem a ver com humanismo e evolução. Olhar nos olhos de um animal e pensar que não sofre, que existe para nos servir, que lhe somos superiores e por isso podemos maltratar, desrespeitar, matar. Defender a tauromaquia é tão evoluído como defender o tempo em que as mulheres não trabalhavam, eram submissas aos homens… enfim, é o mesmo que defender que o homem até lhes pode bater de quando em vez, que é uma questão cultural ou até que elas já estão habituadas.
- Mãe, um touro é um touro, um animal. Uma mulher é um ser humano.
- Sabes, filha, o respeito pelo próximo, pelo outro não é uma questão de categorias ou tamanhos. É uma questão de existência. Se existe, merece respeito. E se pudermos, cuidado também.
- Mas então não entendo. Se é uma questão tão básica e tão evidente, como é que ainda se pratica? E vai continuar a praticar-se?
- É, filha, vai. Infelizmente esta questão tem apenas a ver com a taxa de IVA cobrado nos espetáculos de tauromaquia, sendo que nos restantes espetáculos considerados culturais o imposto será mais baixo.
- Quer dizer, esta discussão toda e petições contra a ministra, petições a favor da ministra só por uma diferença num imposto? Sempre pensei que era pela erradicação das touradas.
- Antes fosse. Não, não é. Infelizmente. Mas tenho para mim que haveremos de lá chegar. E este episódio ajudou a lançar a discussão pública sobre o assunto, o que só por si já é uma grande vantagem. Um passo de cada vez. A mentalidade é o que mais demora a mudar, a vertente mais lenta de todas as histórias.
- Espero não ter de falar nisto quando tiver uma filha… mas agora parece-me melhor falar de outro tipo de risco.
- Qual?
- Aquele que faz sonhar, que alimenta histórias de enriquecer viagens e paisagens, que nos liga ao mundo da imaginação e alarga o horizonte do coração.
- Deixa-me adivinhar: estás a falar do Braga em Risco?
- Claro, mãe.
- Tens razão. Por agora é melhor mesmo falar desse risco que nos eleva e envolve. Está mesmo fantástico, não está? Cada ano que passa está mais denso e mais rico. Termos a oportunidade de participar em oficinas de ilustração e criação de histórias com alguns do melhores autores nacionais e internacionais é um luxo. Vermos os trabalhos de tantos alunos, de tantas escolas que participaram e se envolveram… E tudo graças ao trabalho e empenho de muitas pessoas. A ideia começou no Pedro Seromenho, o curador desta iniciativa, que com a colaboração da CMB, do IPCA, da 100ª página, da Rede de Bibliotecas, das escolas e de muitas pessoas de boa vontade, pessoas que nós nem imaginamos quem são, conseguiu, e conseguiram todos, fazer esta maravilha que este ano é dedicada ao património local.
- E tu, imaginas?
- Se calhar nem eu consigo imaginar bem, de forma justa. Mas pensar nisso já é uma forma de reconhecimento e gratidão, não achas?
- Acho que sim. Mas olha, vamos lá hoje, amanhã ou no domingo? E comemos castanhas assadas?
- Olha, vamos lá todos os dias que pudermos, porque o que é bom é para aproveitar. Mas vês? A força das ideias boas tem isto de contágio, de força, de crescimento. E isto sim, é cultura. A tauromaquia não. Percebes a diferença?
- Já percebi, mãe. Posso só perguntar-te mais uma coisa?
- Claro que sim. Diz lá.
- Achas que vamos ter o verão de S. Martinho ou é preciso rasgar uma capa?
- Acho que o espaço desta crónica já está a terminar e as nossas conversas vão ter de esperar por outra, novinha, a começar. E vamos deixar os leitores comerem castanhas sossegados, sim??

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