Os bobos
Escreve quem sabe
2019-06-19 às 06h00
Calhou de esta crónica mear os festejos sanjoaninos em Braga, os quais se iniciaram a 14 e terminam a 24 deste mês de Junho, recheados de programação festiva, apoiados numa extensão comercial invulgar, rodeados de animação associativa, religiosamente cumpridos. Braga cidade celebra o S. João, com brio e novidade, orgulho e tradição. O ar da festa nas ruas se partilha, nas praças se dispersa, à noite em fogo brilha – assim cantam os Sinos da Sé numa das suas criações musicais sobre este santo profeta precursor, cujas celebrações têm o condão de perenidade que outras festas não têm, como diz a marcha: Santo António já se acabou, o S. Pedro está-se a acabar, S. João, S. João, dá cá um balão para eu brincar - o que não é mais do que expressar o desejo que o tempo de S. João se instale nos sentimentos e nas emoções e sirva de substância temática para todas as festas futuras, as quais já passam a estar enquadradas no tempo Novo por ele anunciado no deserto. Diz-se que a sociedade precisa dos rituais da festa para sair de uma «economia de esforço» e desse modo evitar os modos de poupança excessivos que levam ao bloqueio do crescimento, ou seja, os rituais festivos requerem a vontade de se fazerem porque apontam para uma renovação das motivações pessoais e sociais, para uma continuidade das tradições e estas mais não são do que a programação de futuro, não necessariamente nas mesmas linhas, mas nos mesmos carris da superação de constrangimentos, do progresso da perfectibilidade inscrita nos nossos programas cognitivos.
Estou a fazer minhas, as ideias de um livro do professor Carlos Maia que entretanto apresentei sobre Ética e Educação nos quatro Evangelhos, para uma antropeugogia, ou seja, para uma boa condução dos caminhos do homem ou humanidade segundo o bem. Isto à parte, porque a festa mo fez relevar, vamos continuar em modo festivo para salientar os contributos festivos que a cidade propõe aos seus cidadãos e forasteiros. A festa rizoma do S. João tem o lugar da Ponte como centro do seu imaginário – a capela onde caíam pêras no telhado de S. João – mas distribui-se por toda a cidade, sob a orientação estética de festões, balões, luminárias e cabeçudos, o que já diz muito e tudo sobre a presença do luminoso ou fogo ou luz solar que a festa requer como sustento de lendas, mitos e devaneios.
A festa tem um hino próprio, já orgulhosamente difundido por todo o lado e nele se espelham as quadras mais atrevidas que algum orago pode merecer, pelos dons que distribui e pelas orientações que a sua vida induziu ao longo dos séculos: o S. João como motivador de moças e moços casa- menteiros, o S. João como propiciador de humidades retemperadoras das colheitas, o S. João como inspirador de atmosferas perfumadas para inspiração de poetas e de cantadores, o S. João provocador de ritos de passagem, o S. João desafiador de poderosos totalitários, o S. João remediador de males da cabeça e de quantas maleitas no peito de alojam, o S. João anunciador de um Profeta e de um tempo Novos. Na festa cabem todas as músicas e o espaço urbano configura-se como espaço religioso durante a celebração festiva: na intencionalidade humana, todas as ideias da programação se revestem de uma aura luminosa, sagrada, naquele sentido de contribuírem para um estreitamente das relações humanas e para uma consagração do bem como regulador da vida social: desde os concursos de montras, desde a exposição de artesanato, desde a venda de ervas de cheiro, desde os concursos de pastelaria, desde a gastronomia de sardinhadas e cabritadas, pão com chouriço e farturas variadas, desde os desfiles de bandas aos desfiles de mordomas, desde os festivais musicais às rusgas, desde os bombos às concertinas, desde os romeirinhos de promessas ao cumprimento de devo- ções, desde a feira regateada ao preço tabelado, desde as vaidades privadas às exibições públicas de vereadorias. Tudo a festa restaura como propiciador de bem. Resta que nos dias seguintes toda a intencionalidade e perfectibilidade festivas se mantenham e consolidem.
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