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Empresas Zombies

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Empresas Zombies

Ideias

2018-12-28 às 06h00

Margarida Proença Margarida Proença

Todos temos, é claro, as nossas preferências sobre tudo e mais alguma coisa. Na televisão, por entre o zapping múltiplo, gosto de programas que combinem o entretenimento com a obtenção de qualquer tipo de conhecimento adicional. Gosto, por exemplo, de ver programas de culinária; mesmo com aqueles reality shows de concursos de culinária fui, na verdade, aprendendo receitas e principalmente técnicas e truques diversos que me têm sido deveras úteis. Recentemente, e à semelhança já da edição do ano passado, o que mais me surpreendeu no Pesadelo na Cozinha, da TVI, foi a constatação de que as maiores dificuldades não estavam no core do negócio, mas no lado da gestão. Os problemas na gestão, ao longo de toda a cadeia de valor, desde o desenvolvimento do produto, à logística, os recursos humanos, as infraestruturas, passando pelos sistemas de informação necessários para controlar a atividade eram enormes. Em muitos dos casos, ficava patente a dificuldade sentida na formação dos preços a praticar, e na criação de condições de eficiência operacional. Na generalidade dos casos, era por aí que passava a raiz dos problemas sentidos, e que tinham justificado a inscrição dos restaurantes no programa televisivo, procurando eventuais ajudas. E curiosamente, em muitos dos casos relatados, não existia a perceção clara do problema, e das limitações que introduzia no normal funcionamento dos estabelecimentos.
A investigação sobre empresas tem incidido também sobre o caso das chamadas “zombies”, empresas em situação débil, com uma forte dependência dos bancos, mas com significativas dificuldades no cumprimento das suas obrigações financeiras, associadas a níveis de lucratividade corrente e esperada muito baixos, pouco acima de um salário. De acordo com um estudo conduzido por Fernando Alexandre, da Universidade do Minho, este tipo de empresas abrangia, em Portugal e por 2017, mais de 14% do emprego, e portanto a sua importância no nosso mercado é clara. Por outras palavras, mais cruas digamos assim, são empresas insolventes, que subsistem porque praticam custos salariais muito baixos, porque empregam a família, porque oferecem produtos de baixa qualidade como forma de minimização de custos, porque os bancos vão assumindo uma política de tolerância que lhes interessa também na medida em que lhes facilita a vida, evitando o registo de empréstimos incobráveis, etc. Uma miríada de razões, e justificações de curto prazo, que jogam no mesmo sentido - adia a falência, evita a realocação mais eficiente dos recursos utilizados, contribui para manter níveis de produtividade baixos e induzir a realocação de recursos para empresas menos produtivas e eficientes. A proliferação de empresas zombie tende a inundar os mercados, a passar a informação de que não vale a pena abrir novas empresas, diminuindo assim o número de potenciais concorrentes porventura potencialmente mais eficientes , mais bem geridas, mais lucrativos no longo prazo.
Diversos estudos internacionais indiciam um aumento no peso relativo deste tipo de empresas desde os anos 80, associado com a maior fragilidade dos bancos. De acordo com um estudo do Banco de Portugal, de 2018, a fração de crédito bancário alocado a empresas não produtivas excede o peso correspondente em termos de capital e de trabalho, e isso acaba por afetar a atribuição de crédito a outras empresas. As coisas estão, portanto, muito interrelacionadas.
Vai começar um novo ano. 2019 não vai ser um ano fácil, as nuvens começam a acumular-se no panorama económico mundial. No campo político, os paradigmas vão dando sinais de potenciais alterações, ainda que de forma algo errática. Apenas um exemplo: nos Estados Unidos, as eleições de meio de mandato que se realizaram no dia 6 de novembro passado foram dominadas pela saúde, o chamado Obamacare, e os resultados eleitorais sustentaram a continuidade e a manutenção do sistema, mas cerca de um mês depois um juíz republicano veio, ele próprio, declarar a inconstitucionalidade do mesmo. Na Europa, o Brexit aproxima-se rapidamente, com eventual realinhamento dos países.
Sejamos otimistas. Um ano de 2019 positivo, que abra um futuro de crescimento. Para todos.

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