O fim da alternância
Ideias Políticas
2018-06-05 às 06h00
Considerada, de acordo com muitos indicadores, como a terceira cidade do país, Braga tem vivido, ao longo das últimas décadas, momentos de grande expansão territorial e populacional. Importa pois perceber em que medida essa expansão e o crescimento a ela associado contribuíram para o desenvolvimento local e aumento da qualidade de vida dos cidadãos.
De acordo com os Censos de 2011, o concelho de Braga registou um forte crescimento demográfico, ultrapassando a fasquia dos 181 mil habitantes, assumindo-se como a capital de distrito mais jovem do país (cerca de 46% da população é jovem). Nada alheia a esta evolução está a Universidade do Minho que, para além dos benefícios evidentes no plano do conhecimento e formação dos cidadãos, apresenta-se como uma das maiores impulsionadoras do desenvolvimento social, cultural e económico de Braga e da região envolvente. A dinâmica do município está intimamente ligada ao seu crescimento e à sua capacidade para atrair estudantes e investigadores.
Note-se, neste caso, a expansão territorial associada, quer pelo crescente e contínuo aumento de infraestruturas da universidade, quer pelo exponencial aumento de oferta habitacional. E se é verdade que isso em muito tem contribuído para o crescimento da cidade, não é menos verdade dizer-se que foi também, não raras vezes, exemplo de falta de planeamento e de abusos e atropelos às mais elementares regras urbanísticas. Basta olhar hoje para a envolvente do campus de Gualtar, onde se concentram grande parte das escolas e os serviços da instituição, para se perceber do que falamos. Trata-se de toda uma área urbana extremamente carregada, resultante da colagem de loteamentos cujos projectos não foram confrontados com a área envolvente e foram concebidos por forma a maximizar a ocupação do solo, cheia de problemas de circulação, inclusivamente pedonal, vista quase como uma ilha isolada do centro da cidade. Não é de estranhar pois que uma parte considerável de estudantes universitários deslocados terminem o seu percurso académico quase sem conhecer verdadeiramente a cidade. Ainda sobre a envolvente do campus de Gualtar, não menos importante, e que não deve cair no esquecimento, a pressão ainda hoje existente sobre a denominada quinta dos Peões, paredes meias com o campus, vítima de um processo obscuro de transferência de propriedade entre o Estado e um privado, cujo terreno continua a ser apontado para os mais estapafúrdios projectos de construção. O que evidencia que, apesar da transferência de poder municipal do PS para a coligação PSD/CDS, mantêm-se, nesta matéria, as opções políticas e os correspondentes interesses instalados.
Da mesma forma, outras instituições e serviços deram um novo impulso ao desenvolvimento local: a instalação, em 2009, do INL Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia - e a entrada em funcionamento do novo Hospital de Braga, em 2011. Num caso e no outro, Braga deu mais um passo como centro polarizador de uma região mais vasta, circunscrita ao estabelecido Quadrilátero Ur-bano área geográfica composta pelos concelhos de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila nova de Famalicão. Tais factores, no entanto, não deviam ser elementos de distração, implicando o desvio de atenção sobre os problemas reais com que o município se depara. Pelo contrário, obrigam a um oportuno e rigoroso acompanhamento de políticas públicas em áreas tão relevantes como o ordenamento do território, habitação e mobilidade. Braga não pode continuar refém do epíteto da cidade do betão. As consequências dessa política, ao sabor dos interesses de grandes empreiteiros e imobiliárias, estão à vista e resultam, entre outros, na existência de cerca de 11 mil fogos devolutos.
A aposta hoje, por isso, deve ser clara na reabilitação urbana e requalificação do edificado. São necessárias políticas que aprofundem esse caminho, humanizando, em simultâneo, os espaços habitacionais, dotando-os de equipamentos necessários à promoção de estilos de vida saudáveis para a infância, juventude e pessoas idosas, bem à promoção da inclusão.
19 Março 2024
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