A responsabilidade de todos
Voz às Bibliotecas
2019-01-10 às 06h00
As Bibliotecas públicas portuguesas criadas na segunda metade do século XIX, em certos casos, surgiram com base nos livros integrados na Fazenda Nacional na sequência do Decreto de 28 de Maio de 1834, da autoria de Joaquim António de Aguiar, que determinou a extinção de todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares, e do Decreto e Instruções de 31 de Maio de 1862, do Ministério e Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, que regulou a execução da Lei de 4 de Abril de 1861, na qual os conventos femininos de Portugal foram extintos por óbito da última religiosa professa.
Assim, e como foi o caso da Biblioteca Pública Municipal de Viana do Castelo, alguns livros (poucos) dessas “livrarias monásticas”, que sobreviveram às pilhagens, vieram parar ao seu espólio, integrando hoje o que designamos de fundo bibliográfico de reservados.
A propósito destes livros (missais, breviários, sermonários, bíblias, antifonários e outros) que no caso de Viana do Castelo se reuniram como despojos no Convento de São Domingos, refira-se que foram o motivo para iniciativas anteriores à criação da Biblioteca Municipal (1888) precisamente com o mesmo intuito, mas que acabaram por não vingar.
Uma de 1876, do Governador Civil Joaquim Cabral de Noronha Meneses, para salvar os livros das extintas casas religiosas que por mais de quarenta anos se encontravam arrecadados no chão em algumas celas do Convento de S. Domingos e com os quais se pretendia que constituíssem o início de uma Biblioteca Pública. E, outra de 1858, muito curiosa sobretudo pelas pessoas envolvidas e pouco conhecida, pensada também a partir dos «despojos daquelas livrarias monásticas», mas que possui a particularidade de ser da iniciativa do ilustre vianense José Barbosa e Silva, amigo de Camilo Castelo Branco, com o objectivo de o colocar na sua direcção.
E, sobre esta intenção, Camilo Castelo Branco chegou a trocar correspondência com o seu amigo dizendo-lhe numa das cartas que «…o Almeida que te ouvira falar na criação de um bibliotecário-mor para Viana, e na possibilidade de o alcançares para mim. Convinha-me isso, junto a algum subsídio da Aurora [do Lima]. Se me achares habilitado para bem exercer o tal lugar, pede para mim, se não tiveres alguém que mais valha» (Março de 1858).
A estes livros provenientes dos extintos conventos juntaram-se outros, como primeiras edições, obras raras, fundos privados provenientes de doações de valor patrimonial, jornais antigos e outras publicações de edição local. Neste caso, o acesso a estes documentos que constituem, como disse, o fundo de reservados, é condicionado, sujeito a autorização em função do seu estado de conservação e sob vigilância, não sendo permitida a sua requisição para empréstimo domiciliário. Muito solicitados por investigadores e bibliófilos, a preservação destes espécimes é aqui o objectivo principal de qualquer biblioteca pública enquanto guardiã da identidade e da memória. Estes testemunhos da escrita, correspondem na actualidade a marcas de um tempo passado, revivido, sempre presente e imortalizado na identidade e memória de um povo.
As bibliotecas públicas para além de um espaço de acesso ao conhecimento também são lugares de memória e de preservação do património bibliográfico. Depositárias de uma cultura deixada por gerações passadas, as bibliotecas são igualmente lugares de diálogo com o passado, e, ao mesmo tempo, o embrião dos saberes e motor do conhecimento ao serviço da comunidade.
07 Março 2024
29 Fevereiro 2024
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