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A má educação

A responsabilidade de todos

A má educação

Ensino

2018-10-02 às 06h00

José Augusto Lopes Ribeiro José Augusto Lopes Ribeiro

O fenómeno da comunicação globalizada, a nova economia, o consumismo desgovernado e o processo de personalização, constituem algumas das dimensões que tornaram disfuncionais as velhas instituições (como a família ou a escola), provocaram a desintegração social e enormes abalos na educação dos mais jovens, criando insegurança e confusão nas pessoas. Valores como o esforço, o trabalho ou a autoridade, são estilhaçados e em seu lugar surgem o hedonismo, a sedução ou o consumismo.
Vivemos num mundo que privilegia o imediato, o efémero e a aparência, onde a aceleração das mudanças dissolve as ligações sociais e torna tudo obsoleto.

A tecnologia digital imprime a hipervelocidade do ritmo de vida, promove a lógica do consumismo e exige do indivíduo a intensificação da existência e a felicidade a todo o custo. Por sua vez, a cultura é trivializada e homogeneizada, aumentam os comportamentos aditivos, a busca do mero entretenimento e a distração permanente.
Assim, somos invadidos pelo irrelevante, as relações entre as pessoas passam a ser mediadas pelo virtual, a vida torna-se superficial e desenraizada, sem lugar para a crítica e para a reflexão. Deste modo, alastra a alienação e a submissão, as pessoas vivem desorientadas e refugiam-se no mundo oneline, onde não existem fricções nem contrariedades. Agora o que conta é a visibilidade, o indivíduo só é relevante se estiver devidamente iluminado através dos meios digitais. Ele está obrigado a manifestar constantemente a sua presença e tem de construir uma imagem melhorada de si mesmo, uma identidade virtual, o contacto face a face é substituído pelo ecrã.

Perante a crise educativa atual e o redemoinho dos modelos nocivos e da má educação temos, pois, de nos interrogar acerca da função da escola e daquilo que deve ser ensinado, bem como sobre o papel da família na formação da pessoa. As crianças e os jovens vivem mergulhados numa sociedade do espetáculo, influenciados pela televisão, pela internet e absorvidos pelo uso desenfreado do telemóvel. São manipulados pela publicidade e convidados a participarem na abundância da sociedade de consumo, de modo fácil e desregulado.

O turbilhão social em que vivemos dificulta e, muitas vezes, impossibilita a tarefa educativa, retirando autoridade ao adulto e atribuindo aos seres em desenvolvimento um estatuto de soberania absoluta, que impede o exercício de uma boa educação e a convivencialidade. Daí que a educação esteja demasiado fragilizada e hesitante, os pais e a escola vivem uma persistente desorientação perante as mudanças abruptas e a incerteza instalada. Por isso, é urgente encontrar um sentido para educar a nova geração e possibilitar uma aprendizagem significativa e humanista.

A sociedade deve tornar-se mais educadora, promovendo o civismo e a participação, em vez de impor a lavagem cerebral da busca do lucro ou a ditadura do futebol. Por sua vez, a família precisa de adotar uma nova atitude e valorizar o exemplo, restringir o excesso de distrações, valorizando a conversação e a leitura.
Por outro lado, os pais devem cultivar nos filhos a importância da escola, do esforço e da concentração.
Na família, os indivíduos precisam de perceber o valor do respeito e confrontarem-se com as consequências da sua conduta, de maneira a desenvolverem a responsabilidade, em vez se infantilizarem os jovens através da super proteção ou de nunca terem ouvido a palavra não.

À escola cabe defender a cultura e o conhecimento, promovendo um ambiente ordenado e tranquilo, através de uma pedagogia crítica que garanta a aprendizagem significativa e o aprofundamento da sensibilidade, de maneira a preparar os indivíduos para as ambiguidades e desafios da vida moderna.
O desnível entre a transformação do mundo e o desenvolvimento da humanidade deve interpelar a educação para que encontre um modelo educativo mais equilibrado e humanista, que possibilite a formação do caráter e a resistência mental, bem como a compreensão dos nossos sentimentos e das nossas emoções, alargando a criatividade e o pensamento crítico, de maneira a evitar a passividade e o conformismo.

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