Os bobos
Ideias Políticas
2017-01-17 às 06h00
Certamente devido a um assumido excesso de bairrismo da minha parte, lembro-me de em miúdo sentir um orgulho imenso - na altura parecia fazer todo o sentido - quando passava na extinta linha 19 da TUB e via pendurada numa fachada de um edifício do campo da Vinha uma tarja com a inscrição “Braga: Capital do Comércio”. Braga era a capital - imagine-se! - e isso fazia toda a diferença para mim.
Mais tarde, percebi que devia tratar-se de uma iniciativa da Associação Comercial de Braga, à qual se seguiram outras como, por exemplo, a que nos dizia que em Braga existia “o maior centro comercial a céu aberto”. Havia uma razão para isso. A pujança das lojas de rua em Braga era visível e um atractivo muito forte.
A aposta da instituição parecia evidente: valorizar o comércio de rua, tradicional, familiar, próximo dos cidadãos. Boa aposta, digo eu, mas um quanto incompatível com outras dinâmicas económicas, que agora parecem vingar na cidade.
O comércio tradicional e urbano em Braga, grande parte dele constituído por pequenos negócios empresariais, há muito que tem a vida complicada. É sabido que teve de lidar em simultâneo com uma primeira fase de expansão de médias e grandes superfícies comerciais, instaladas na maior parte dos casos na periferia da cidade, e com a deslocalização de serviços públicos, o que veio alterar as rotinas e percursos diários dos cidadãos.
Pena é que alguns dos que na altura se insurgiram contra a situação, acusando e bem o município de nada fazer para travar a sangria que o sector vivia, estejam hoje no papel de principais impulsionadores de novos projectos de várias cadeias da grande distribuição, com a agravante de agora atacarem o coração da cidade.
Não creio ser necessário recorrer a provas factuais para atestar o que acabo de escrever, uma vez que ainda acredito que os bracarenses têm memória, mas quero, no entanto, partilhar uma declaração da coligação “Juntos por Braga, na altura na oposição, a propósito de um novo centro comercial em Braga: “quanto ao novo Dolce Vita, a autarquia manteve a política seguida em relação às demais médias e grandes superfícies comerciais, emitindo parecer favorável para a Comissão de Licenciamento Regional baseada apenas no cumprimento dos requisitos de enquadramento urbanístico'.
Embora, no plano prático, esta cambalhota se afigure trágica para a cidade, deixem-me dizer-vos que politicamente esta viragem de pensamento é deliciosa. Não se brinca com assuntos sérios, eu sei, mas reparem nisto: na oposição, os vereadores do PSD/CDS condenavam a câmara, na altura gerida pelo PS, porque emitia sempre pareceres favoráveis ao licenciamento de médias e grandes superfícies comerciais, limitando-se a garantir os requisitos de enquadramento urbanístico, sendo que agora, no poder, alegam que nada podem fazer quanto ao licenciamento da actividade e, pior de tudo, nem sequer cuidam do citado enquadramento urbanístico.
Vimo-lo acontecer recentemente com a construção de uma unidade comercial do grupo Sonae na Quinta das Portas, em Maximinos, e, lamentavelmente, estamos prestes a assistir à implantação de outra no miolo do quarteirão definido pelas ruas 25 de Abril, de Goa, do Raio e Av. 31 de Janeiro, mais concretamente no parque de estacionamento das Oficinas de S. José.
E se, neste último caso, no plano económico quer-me parecer que a situação vai complicar-se ainda mais para os pequenos e médios comerciantes, no plano urbanístico não tenho dúvidas de que permitir a construção desta média superfície comercial vai acarretar problemas de mobilidade, ambiente e por em causa a qualidade de vida dos moradores. O resultado: mais carros, mais trânsito, mais poluição, mais ruído (a qualquer hora), mais um Continente. Bom dia.
26 Março 2024
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