Correio do Minho

Braga, terça-feira

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Professor mágico

A responsabilidade de todos

Conta o Leitor

2015-08-31 às 06h00

Escritor Escritor

Manuel Correia

Estou cansado! Sim estou mesmo cansado, de cansaço físico. Os músculos estão doridos, estou de rastos! Vou parar e deixar o tempo curar o cansaço.
Num desses dias, que são quase todos os dias, acabei por ceder à fadiga, não resisti e acabei na cama. Se há sitio que se assemelha ao paraíso, é a cama. Hum! Na cama tudo acontece: os corpos deitados revitalizam-se da fadiga, rejuvenescem, cruzam-se em momentos de puro prazer. Na cama surge a vida na forma mais inocente e na cama acaba a vida, terminando o sofrimento prolongado.

Na cama o sono domina o corpo, e, depois vem o sonho. De uma forma espontânea, as imagens de um filme nunca visto, a preto e branco, raramente com a nitidez de um filme trabalhado, surge no pequeno ecrã craniano.
Como dizia, acabei por cair na doçura da minha cama. No principio as imagens criadas pela minha consciência, depois uma história que acabou por aparecer do nada.

Numa escola um professor apresentou-se ao serviço, como habitual em todos inícios lectivos. Na secretaria foi ignorado pela directora do agrupamento, pensando que era um professor de AEC. Com toda a calma do mundo, dirigiu-se a uma empregada e apresentou-se como professor do primeiro ciclo. A empregada da secretaria foi simpática, mas a directora que por acaso estava ali, continuou a sua indiferença.

Como era o ultimo na lista de escolha da turma, ficou com a mais problemática, um terceiro ano cheio de repetentes. No primeiro dia, tirou uma foto à turma e decorou todas as caras e nomes. A turma no seu geral era fraca na aprendizagem, mal comportada, uma autêntica desgraça.
Para ser professor não basta saber ensinar, é preciso ter paciência e uma boa dose de criatividade. Daniel era o seu nome. Este professor em pouco tempo transformou a sua turma num caso de sucesso.

O que ele usou foi magia! Sim magia, na forma mais simples, ilusão. Ensinou vários truques, como forma de criar um estímulo. Criou o clube da magia, todos os alunos e alunas quiseram entrar. Durante o primeiro período, as notas foram subindo até chegar a uma percentagem de cinquenta por cento de positivas. Na festa de Natal, o número de magia foi o mais aplaudido. A directora deu um tímido parabéns a Daniel.

Na sala dos professores, Daniel era reservado, ouvia e falava o essencial. Depois da festa de Natal, vários colegas o elogiaram, ficaram admirados por conseguir em tão pouco tempo, tão bons resultados com a sua turma. Daniel passou a ser mais interventivo, tanto nas reuniões como na hora de laser na sala dos professores. Nas reuniões foi dando várias ideias para melhorar o comportamento dos alunos, como o seu aproveitamento de aprendizagem. A directora ainda o olhava com desconfiança.

No fim do segundo período, a turma do Daniel estava unida, e, com um aproveitamento quase de cem por cento, não fosse um aluno que tinha défice de aprendizagem. A directora estava pasmada, não queria acreditar que tal fosse possível! Pediu que fosse ao seu gabinete. Daniel, calmamente olhou para a directora, pediu permissão par se sentar, e, ficou à espera que a directora fala-se. A directora era uma mulher de poucos sorrisos, mas naquele momento, esboçou um sorriso, e disse, Primeiro quero dar-lhe os parabéns pelo magnífico trabalho que está a fazer na turma, e segundo, qual o segredo desta transformação? Daniel não era homem de ficar vaidoso, mas olhou para a directora e esboçou um sorriso discreto, Obrigado pelo reconhecimento, o segredo é motivar os alunos, fazer com que se sintam motivados dentro e fora da sala, eles são o verdadeiro segredo.
 
No dia seguinte a directora voltou a chamar Daniel ao seu gabinete. Não era a mesma mulher, era uma outra pessoa. Sensual, bem-humorada, cabelo solto, um vestido justo denotando todos os contornos do seu corpo. Olá Daniel gostava que com as suas ideias me ajudasse a melhorar certas turmas. Daniel depois de a cumprimentar e de discretamente a observar de cima abaixo, elogiou-a pela sua transformação, No que poder ajudar pode contar comigo. A directora era casada, mas falava-se nos corredores que o seu casamento estava por um fio.

Durante o terceiro período, Daniel e a directora tiveram várias reuniões, encontros extra escolares, tudo para estudar e implementar o melhor método e adequado a cada turma. Surgiram ideias, foram implementadas, e, existia um clima de uma boa amizade entre os dois. A certa altura, a directora sentia mais do que amizade.

Daniel prosseguiu com o seu plano para a sua turma. Havia que recuperar o aluno com dificuldades de aprendizagem. Os melhores alunos deram uma ajuda. A turma era unida fora e dentro da sala.

A primavera chegara e as roupas mais leves cobriam os corpos. A directora era agora um poço de sensualidade contida, todos professores, empregados e alunos comentavam a nova directora.
Num desses encontros a directora caiu nos braços de Daniel. Trocaram um beijo prolongado. No fim, depois dos lábios se afastarem, ouve um silêncio. Desculpe mas não resisti. Eu também não impedi, respondeu Daniel. Sabe, é uma mulher atraente, culta, tem tudo para fazer feliz qualquer homem. Mas é uma mulher casada.

A directora olhou-o nos olhos e disse, O meu casamento está acabado. Daniel olhou-a nos olhos bem lá no fundo, O seu casamento precisa de ser regado como se rega um jardim. Não tem chama, não há motivo para continuar. Ainda bem que falou em motivo, já pensou que o verdadeiro motivo deste distanciamento do seu marido é o seu trabalho? Como assim? Alguma vez durante um intervalo pensou em mandar uma mensagem ao seu marido a dizer que o ama ou um simples olá?

O encontro terminou com dois beijos nas faces. Nessa noite a directora quando chegou a casa, encontrou o marido deitado no sofá a dormir, olhou para ele e pensou nos primeiros tempos, em que se conheceram, em tudo o que Daniel lhe disse. Nessa noite dormiu no aconchego da felicidade.

O terceiro período acabou. A turma do Daniel foi um sucesso. As ideias implementadas nas outras turmas com notas baixas acabaram por ter uma melhoria significativa. A directora tinha revitalizado o seu casamento e tornou-se mais compreensiva com os colegas professores.
As férias chegaram e Daniel terminava o vínculo à escola. A directora ainda pediu para ficar, mas Daniel respondeu-lhe que, O meu trabalho aqui terminou, agora vou para onde precisam de mim.

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