A responsabilidade de todos
Correio
2012-12-17 às 06h00
Paula Ribeiro
A nossa mente é uma caixa de surpresas, nunca sabemos como vai reagir às mais diversas situações. Sabemos que com o passar dos anos envelhecemos, sabemos que crescemos, sabemos que modificamos, mas nunca sabemos como vamos reagir perante uma situação adversa. Nunca reagimos da mesma maneira!
Toda a gente sabe que estamos sujeitos aos mais diversos tipos de doenças, de problemas a todos os níveis, mas conseguimos viver sem nos preocuparmos muito com eles. Apenas nos lembramos deles, quando estes nos batem à porta e entram sem nós os autorizarmos.
Toda a gente diz que somos seres resilientes, mas que essa resiliência vai diminuindo com a idade. Digamos que somos seres com algumas capacidades de adaptabilidade, que os outros seres não têm. Afinal somos seres racionais.
Somos seres imprevisíveis, cheios de imperfeições e de erros que muitas vezes não podem ser corrigidos, atenuados talvez, mas nunca corrigidos. Trazemos as nossas qualidades, e os nossos defeitos moldados na nossa personalidade, trazemos o nosso sorriso e as nossas lágrimas cravadas no nosso corpo, mas a acção perante as coisas fica muito àquem destes dois pontos.
Imaginemos um cenário fora da nossa rotina. Imaginemos que encontramos uma pessoa com a idade da nossa mãe deitada no chão, dobrando-se, gritando, abafando com dores. Essa pessoa segura a vossa mão com força e implora por tudo em que acredita que a ajudemos que lhe tiremos as dores, que não a deixemos partir. Impotentes, com o coração a saltar pela boca, a respiração ofegante, as mãos a tremer e o corpo a falhar, tentamos sem grande êxito acalmar a senhora e tentar que aguente até que a ajuda chegue, mas a senhora falha.
A nossa promessa de que tudo ficará bem e que no fim do dia voltará a ver a filha falha com ela. Descemos a toda a velocidade a terra sendo obrigados a fazer coisas que nem sabíamos que sabíamos fazer, mas mesmo fazendo de tudo a senhora não reage.
Na nossa mente vagueiam os gritos, o desespero, o olhar crucificado da senhora que nos pediu para que não a deixássemos morrer. A ajuda chega, os esforços são muitos, as horas passam, os familiares reúnem-se, as lágrimas nascem e as notícias chegam. Tudo foi feito, mas de nada valeu. Gritos, choros, e até silêncios invadem cada coração que conhecia aquela mulher. O corpo é retirado, as pessoas dispersam, mas a rapariga a quem a senhora gritou por ajuda continua ali, vendo e revendo e vivendo a imagem, a dor, o olhar, o desespero.
As lágrimas não caem, mas o coração não acalma, nem a respiração amaina, as mãos continuam a tremer e o corpo continua fraco. Todas as pessoas sofriam naquele momento, todos os corpos e almas à sua maneira faziam o luto, mas nenhuma segurou a mão da senhora enquanto esta partia. Muitas foram as noites em que a mente brincou e trouxe aquele dia à memória. Os sentimentos que esta trazia com ela eram indescritíveis, apenas um aperto tão fundo conseguia ser descrito.
Somos seres maravilhosamente misteriosos. Cada um reage de forma diferente. Existe pessoas transparentes e pessoas opacas. Nenhuma sente o que a outra sente, nenhuma pensa o que a outra pensa, nenhuma chora e sorri como a outra.
Os sentimentos chegam como uma onda inesperada, varre a praia e depois leva tudo com ela de volta para o oceano, mas volta sempre, mais forte ou mais fraca.
Cada um conscientemente terá visto a imagem que aquela rapariga descreveu e de certo que uma onda de sentimentos os avagou. Com isto, apenas se comprova que toda a gente sente, à quem demonstre ou à quem esconda, mas no fim do dia todos, sozinhos ou acompanhados vamos buscar cada imagem do que vivemos e visualizámos-la mais do que uma vez para quê?
Essa é uma pergunta a que não sei a resposta. Talvez para acalmar o que sentimos, ou para ampliar o que sentimos, ou ainda para tentar perceber porque sentimos o que sentimos.
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